sábado, 23 de agosto de 2008

A minha avó Linda.

Hoje não é um bom dia.
Há cinco anos atrás a minha avó Olinda partiu.
A minha avó era muito bonita, tinha uns olhos castanho-escuros e umas pestanas grandes. Os seus olhos eram o espelho da sua alma. Usava o cabelo num "pucho" e tinha sempre a travessa que servia de pente para andar sempre arranjada.
Era uma pessoa que sempre foi habituada a trabalho duro e Vila-Chã era o seu mundo. Até para ir ao café na freguesia, quando se juntava a família, raramente nos acompanhava. Dizia que não ia ao café por um bocadinho de líquido numa chávena! Nunca foi mulher de expressar sentimentos, mas podíamos perceber o amor que nos tinha.
Comecei a sentir-me chegada a ela já na idade adulta pois, embora estivesse com ela frequentemente, como só a via de visita, não tínhamos uma relação muito próxima. Não me lembro quando nos aproximamos, mas lembro-me das nossas idas ao feira nova, das nossas conversas e dos seus desabafos, das idas à santa casa para mais um exame.
O primeiro momento de cumplicidade que me recordo foi num dia 1 de Novembro em que, no final das castanhas, fomos dar a tradicional volta ao cemitério (só eu e ela) e encontramos uma senhora, que nos perseguiu o tempo todo com um discurso repetitivo e começava sempre com "ó Sra. Ólinda"! A minha avó e eu bem tentávamos despistar a senhora mas, persistência não lhe faltava, e acabamos por nos render. Eu rendi-me às gargalhadas da minha avó que nunca mais se repetiram, ao pé de mim, daquela forma. Foi um óptimo momento com a minha avó Linda...
Tenho saudades do seu leite-creme, que "não tinha nada que saber" mas ninguém o faz como ela, e tenho saudades das suas batatas cozidas com grelos e chouriça farinheira, que costumo fazer à procura daquele sabor e não o encontro.
No meu aniversário, a menina mais especial na minha vida, a Sara Luís, ofereceu-me de presente um tesouro em forma de livro!
O livro é do autor/ilustrador Luís Silva e intitula-se "O livro da avó".
É uma pequena história sobre uma avó, a do autor, mas que em muito se assemelha à minha, embora a minha avó tenha sido a melhor do mundo.
Já começam a passar muitos anos e muitas vezes me apetece gritar bem alto:
"Avó Linda, fazes-me falta."

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